Wednesday 15 October 2008

“Tic Tac”

03.30h da madrugada. Despertei em pânico e suado.

Emergí rapidamente na escuridão do meu lençol, em busca de um refúgio para os mil e um pensamentos que teimavam em tirar-me o sono.

Pensei até em gritar, mas gritar só tendo a certeza que conseguia furar os timpânos daquele mal. Pensei em pensar, mas pensar só se tais pensamentos pudessem afogar os pensamentos negativos que transbordavam nos meus olhos pálidos e na minha expressão facial desolada.


Destapei-me...

Peguei na caneta e no papel que estavam mesmo ao lado na mesinha de cabeceira, e escreví com raiva: “Como podes tu, que te dizes Todo Poderoso abandonar-me num momento crucial da minha vida?”

Naquele instante percebí que era o meu coração que pedia desabafo. Ao coração não se proíbe o que lhe apetece...

Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade!!

Com o papel sobre a almofada continuei: “Como é possivel quebrar o destino, se eu tenho o meu e cada um tem o seu?!?”


Devolví o papel e a caneta à cabeceira, e no lugar onde se encontravam minutos antes coloquei a minha cabeça.

Respirei fundo. Dei conta de que tudo o que tinha vivido até então, não passou de uma “simples conquista, uma vitória, uma paixão aleatória que me uniu a outra pessoa no mesmo espaço”.

Pensei em pegar na caneta e partir, no papel e rasgar, mas se o fizesse seria como uma dessas religiões que fogem da morte imaginando uma ressureição para o Homem. Partia a caneta, rasgava o papel...mas o pensamento continuava lá, activo e cada vez mais destrutivo.


Voltar a dormir?

Mas voltando a dormir corria o risco de sonhar. Sonhando ficava nervoso. Nervoso despertava...pegava no papel, na caneta, e voltava a escrever.

Apresentava-se um dilema: ou ficar acordado a remoer os pensamentos, ou dormir e arriscar sonhar. Que fazer?!?

Olho para o telemóvel na procura de algo para fazer. 05.30 já...

Levantei-me, vestí umas calças de fato de treino, uma t-shirt, calcei uns ténnis e saí para caminhar. Durante a caminhada encontrava jovens que em plena manhã de 6ª feira iam tentando mergulhar a frustração deste ou daquele problema em cevada fermentada, e em malte conservada pelos antepassados de William Wallace para grandes comemorações.

Mal eles imaginam que este mundo é super concreto, sem migalhas para fantasias – pensava eu enquanto fazia o caminho de volta para casa.


Chegado à casa, lavei o rosto, e fui para o quarto. Puxei um dos cds dos ColdPlay, e automatizado procurei o número do tema “Sparks”.

Já localizado, peguei no papel, na caneta, e deitei-me com eles na mão.

Volvidos alguns segundos, adormecí...


[Saranga, A Sarangamania e as Sarangadas do Saranga - 2007]

1 comment:

Nanda Assis said...

nossa forte esta história.

odeio ter pasadelos, acordo tremendo e com muito medo depois custo a dormir.

bjosss...